A infertilidade feminina pode ser devida a uma ampla variedade de fatores, podendo até ser multifatorial. A investigação pode incluir exames de imagem, dosagens hormonais e até testes genéticos.

Diversas condições podem dificultar a gravidez, sendo a idade avançada a principal delas, uma vez que a fertilidade da mulher começa a entrar em declínio mais acentuado a partir dos 35 anos. A seguir, vamos entender melhor os fatores de infertilidade feminina.

- Idade materna avançada/ baixa reserva ovariana: ao contrário do que acontece com os homens, que conseguem produzir espermatozoides ao longo de toda a vida, a mulher já nasce com sua reserva ovariana definida. Sendo assim, ao longo do tempo, a quantidade e qualidade dos óvulos diminui e, por isso, a dificuldade de engravidar naturalmente e a probabilidade de malformações fetais e aborto espontâneo aumentam com o passar dos anos. Isso acontece porque os óvulos que temos “em estoque” ainda não são completamente maduros - eles terminam seu processo de maturação quando são recrutados para ovulação - e óvulos envelhecidos têm maior probabilidade de apresentar erros nesse processo, o que aumenta a incidência de embriões cromossomicamente anormais. As anomalias cromossômicas, em geral, não são compatíveis com a vida e, por isso, a ocorrência de abortos pode aumentar conforme o avanço da idade, bem como a incidência de nascidos com Síndrome de Down, por exemplo, que caracteriza uma das raras anomalias cromossômica (trissomia do cromossomo 21) compatíveis com a vida.

Para avaliar a reserva ovariana, são feitas dosagens dos hormônios relacionados ao recrutamento e amadurecimento dos óvulos, além de contagem de folículos antrais (ultrassom).

- Alterações na ovulação: muito comum em mulheres com Síndrome do Ovário Policístico (SOP), a ausência de ovulação também é conhecida como anovulação crônica. Em alguns casos, a disfunção pode ser apresentada como uma ovulação irregular, o que dificulta a determinação do período fértil. A ovulação pode ser investigada por exames de ultrassonografia transvaginal seriada e dosagem de progesterona.

Fatores endócrinos, como hipo ou hipertireoidismo, ganho ou perda elevada de peso, hiperprolactinemia e amenorreia (ausência de menstruação) por estresse também podem afetar a ovulação.

- Alterações anatômicas: podem ser alterações na anatomia das trompas ou do útero. Alterações nas trompas podem dificultar a passagem dos espermatozoides e consequente fecundação do óvulo (que ocorre ainda na trompa), e podem causar um acúmulo de líquido identificado como hidrossalpinge. Alterações uterinas podem ser malformações congênitas (como útero bicorno ou didelfo) ou patologias adquiridas (como miomas e pólipos), que podem prejudicar a implantação do embrião ou aumentar as chances de gravidez ectópica.

Exames de investigação para alterações anatômicas incluem ultrassonografia transvaginal, histerossalpingografia e video-histeroscopia.

A endometriose e a adenomiose são condições que, de certa forma e dependendo do grau, também podem alterar a anatomia e função das trompas e útero.

- Endometriose: uma das principais causas de infertilidade feminina, a endometriose é caracterizada pela presença de tecido de revestimento interno do útero (endométrio) fora desse local, mais comumente nos ovários, tubas uterinas e estruturas adjacentes ao útero. Podem formar aderências que distorcem ainda mais a anatomia e função das estruturas às quais estiverem associadas. Os principais sintomas incluem dismenorreia (cólica menstrual acentuada), aumento do fluxo menstrual e dor nas relações sexuais, podendo ocorrer outros.

- Adenomiose: semelhante à endometriose, são focos de endométrio que crescem dentro do miométrio - camada muscular do útero.

- Fator cervical: durante o período ovulatório (período fértil), o útero produz um muco que protege e facilita a locomoção dos espermatozoides do canal vaginal até a trompa uterina, onde vão encontrar o óvulo. Entretanto, se esse muco estiver muito espesso e presente em muita ou pouca quantidade, pode causar efeito contrário e acabar atrapalhando. Outro fator cervical que pode dificultar a obtenção de uma gravidez é se houver estreitamento (estenose) do colo do útero, que pode dificultar a passagem dos espermatozoides.

- Fator imunológico: o sistema imunológico é responsável pela defesa do nosso organismo contra agentes externos e “estranhos”. Quando pensamos que o embrião tem 50% de outra pessoa em sua composição, podemos entender como ele poderia ser facilmente reconhecido como um agente externo. Sendo assim, o que acontece quando esse embrião apenas 50% compatível com o organismo materno começa a se desenvolver? Por que ele não é atacado pelo sistema imune? O organismo materno produz anticorpos bloqueadores que protegem o embrião recém-implantado no útero, embora esse mecanismo ainda esteja sendo estudado. Uma das hipóteses em caso de falha de implantação ou aborto recorrente é que haja uma falta de produção desses anticorpos e, por isso, o sistema imune materno acaba reconhecendo o embrião como agente externo e atacando-o.

- Trombofilias: as trombofilias aumentam o risco de trombose (formação de coágulos no sangue), que compromete o suprimento sanguíneo para o embrião e por isso a gestação não evolui (abortos recorrentes e falhas de implantação). Podem ser adquiridas ou hereditárias.

- Infertilidade sem causa aparente (ISCA): mesmo após cuidadosa investigação, as causas de infertilidade podem não ser diagnosticadas em aproximadamente 10% dos casais. Nesses casos, leva-se em consideração o tempo de infertilidade conjugal e a idade materna para a escolha do melhor tratamento de Reprodução Assistida.